29 de jan. de 2011

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Clássicos em campo - Coelho Neto X Lima Barreto

Mayara Araújo
O novo livro do pesquisador Mauro Rosso leva a campo uma épica disputa literária: a rusga entre Coelho Neto e Lima Barreto. O primeiro, um apaixonado por futebol, e o segundo, seu declarado opositor.
    Boa parte dos tradicionais clubes de futebol brasileiros celebrou seus centenários nos últimos cinco anos, ou hão de celebrá-lo nesta próxima década. O marco resulta do período de difusão do futebol no Brasil, ocorrido sobretudo entre a última década do século XIX e a primeira do século XX.
    Tal transição interessa não apenas ao caderno de esportes, mas também à cultura, já que o jogo de bola mais praticado no País, considerado uma paixão nacional, invadiu também as veredas da arte, tendo sido mote para artistas plásticos, cineastas, bailarinos, poetas, romancistas e cronistas (principalmente estes últimos).
    As crônicas jornalísticas, presentes nos jornais do início dos anos 1900, foram possivelmente a primeira linguagem literária a manter contato direto com o "jogo bretão", trazido oficialmente da Inglaterra por Charles Miller, em 1894, ou extraoficialmente pelos marinheiros ingleses, que corriam atrás de uma bola nos portos cariocas, inspirando jovens escravos e meninos pobres.
Personagens - e por que não dizer protagonistas? - Desse momento de aparição do futebol nas colunas de jornal, Lima Barreto e Coelho Neto travaram uma das melhores disputas ideológicas entre escritores. Para além do jogo, os dois escritores divergiam em diversos aspectos, contrários que eram sobretudo ao modelo de país desejado pelos republicanos.
    Sobre o campeonato intelectual travado entre ambos, o pesquisador carioca Mauro Rosso lança pela editora Difel, pertencente ao grupo editorial Record, o livro "Lima Barreto versus Coelho Neto: um fla-flu literário". Nascido de uma pesquisa acadêmica, o livro de Mauro Rosso acaba explorando muito mais do que o bate-bola entre Lima e Coelho. Os grupos de intelectuais cariocas do início do século XX, a história da imprensa do Rio e a história política brasileira surgem durante a narrativa fluida, de linguagem acessível.
Início de século
    Até a chegada do futebol no país tropical, diz-se que o povo brasileiro não tinha tempo, condições, nem sequer a cultura de praticar esportes. Apenas a elite se dispunha ainda ao remo, ao críquete, ao polo e a alguns outros, como formas de distração e aproveitamento do ócio burguês. O jogo de "football" chega ao Brasil como um símbolo de civilidade, de nação avançada, pegando carona nos adjetivos do país originário do esporte, a Inglaterra.
    A elitização do futebol durou, contudo, pouquíssimo tempo. Logo a tal brincadeira britânica cairia nas graças populares, tendo sido difundida pelos próprios membros da elite, que, apaixonados pela plasticidade do jogo, faziam questão de que cada vez mais pessoas o praticassem.
    Mauro Rosso recorda em um de seus muitos artigos sobre o tema que, "em 1904, o futebol já atraía tanta gente que foi preciso a Federação Carioca das Sociedades de Remo oficiar aos clubes um apelo para que não fossem realizados jogos nos dias de regatas".
    "O futebol passou de elitizado para paixão nacional em pouco mais de quatro anos. Foi o tempo suficiente. Um dos motivos desse fenômeno foi a facilidade do jogo. Os outros esportes exigiam treinamento e equipamentos: canoas, cavalos, uniformes. O futebol só exigia uma bola e habilidade com os pés", explica Mauro.
    O futebol que sensibilizou os ricos, a elite e depois pessoas de todas as classes, começou a chamar a atenção de jornalistas e intelectuais. "Os escritores desse início de século abraçaram o futebol por questões sociais e políticas até", revela o autor. Sob essa perspectiva é que Mauro observa a rusga clássica entre Lima e Coelho.
Os escritores
    A primeira inserção do futebol num romance foi feita por Coelho Neto, no livro "Esfinge", de 1908. O escritor fez parte de um grupo de escritores que, na época, faziam dos jornais sua forma de subsistência e de exercício da sua arte. Junto a Coelho, Medeiros e Albuquerque, Afrânio Peixoto, Olavo Bilac e João do Rio enalteceram o futebol como um elemento formador do Brasil.
    Esses tais, integrados ao processo de aceitação dos novos ideias republicanos, delinearam o movimento literário da belle époque carioca, "definida por uma produção narcisista, descompromissada, de escrita aristocrática", como conceitua Mauro Rosso. Afrânio Peixoto, que além de escritor era médico, foi quem diagnosticou em suas crônicas os efeitos salutares do futebol, atribuindo a ele a capacidade de formar uma nação brasileira sadia.
    O fervoroso discurso de Coelho Neto era apoiado por muitos, enquanto apenas três ou quatro eram adeptos às ideias de Lima Barreto.
    As primeiras de suas críticas ao futebol se referiam ao estrangeirismo e ao fato de servir às elites. Anos depois, quando da difusão do esporte, destacou veemente a violência do jogo, crítica, aliás, apoiada por outros jornalistas. Na década de 20, a rusga de Lima Barreto era com a exclusão racial praticada no esporte, reclamação comprovada quando Epitáfio Pessoa proibiu que negros fossem convocados para a seleção brasileira.
    "É preciso entender os motivos de Lima Barreto. Ele via o futebol como o símbolo de uma falsa civilização. Lima repudiava o poder da República, ela era sua arquiinimiga. Então tudo o que fizesse parte do projeto da República era alvo de Lima. O cinema e o carnaval, por exemplo, também foram temas por ele criticados", comenta Mauro.
Outros nomes
    Apesar da insistente e consistente crítica de Mauro Rosso de que a paixão nacional pelo futebol não foi suficientemente explorada pela literatura do País, muitos literatos amantes do jogo de bola, registraram-no em romances, poesias e crônicas de jornal.
    Para além da cobertura dos jogos e de comentários técnicos, esses nomes que precederam Coelho Neto e a boemia da belle époque escreveram sobre a beleza e a emoção do espetáculo da bola. "Nelson Rodrigues foi o grande escritor de futebol da sua época. Ele e seu irmão, Mário Filho. Nas décadas de 40 e 50, eles fizeram legítimas crônicas de futebol. Além deles, há muitos: Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos... Até Vinícius de Moraes escreveu poemas dedicados ao Garrincha. Foi um grupo que se dedicou ao futebol, embora o tema não tenha sido suficientemente literarizado", enumera Mauro Rosso.
    O pesquisador destaca alguns nomes que, na atualidade, representam a relação literatura, jornalismo e futebol. O jornalista Juca Kfouri e o ex-jogador Tostão, dois comentaristas esportivos da TV, sob a perspectiva de Mauro, merecem destaque.
    Para ele, essa cobertura poética do esporte ainda está refletida em muitas reportagens futebolísticas de TV. Aproveitando a tecnologia da captura de imagens, vez por outra, nas emissoras nacionais, nasce um aspirante a Coelho Neto ou Nelson Rodrigues, filosofando sobre a plasticidade do esporte e a ginga brasileira.
    "Vejo isso com bons olhos, o futebol é tão importante que despertou e sensibilizou os intelectuais naquela época e também os jornalistas desse tempo. É tudo tão bonito, emocionante e tão matéria para a construção de textos, que deve ser tratado no jornalismo com essa mesma poesia", opina o autor.
SERVIÇO
Literatura e Futebol
Lima Barreto versus Coelho Neto: um fla-flu literário
Mauro Rosso
Difel
2010
240 páginas
R$ 39
Do Diário do Nordeste

O vexame das aposentadorias

Ruth de Aquino
 Causam asco as aposentadorias inconstitucionais, milionárias e vitalícias de ex-governadores e seus herdeiros. Esses benefícios são um roubo e desmoralizam a profissão de político. Em toda a sua vida ativa, o cidadão comum e assalariado é chamado de “contribuinte”. O nome é correto. Contribuímos ao pagar impostos. No Brasil, infelizmente, os impostos são escorchantes e não servem para seu fim mais nobre.
    Em países civilizados, essa contribuição tem um sentido público claro. Medicina e educação costumam ter qualidade e ser gratuitas. Quantos de nós pagaríamos impostos com mais alegria se o dinheiro descontado mensalmente do salário financiasse serviços para os mais carentes e a classe média.
    A aposentadoria máxima é de R$ 3.200 por mês para quem trabalha 35 anos. Mas os ex-governadores estão acima das regras. Mesmo que governem um Estado por apenas alguns dias, podem ganhar aposentadoria de R$ 10 mil a R$ 24 mil. Para sempre, até morrer. E, após a morte, as viúvas assumem integralmente o benefício(leia mais).
    O Supremo Tribunal Federal, em 2007, considerou inconstitucional a aposentadoria de Zeca do PT, ex-governador de Mato Grosso do Sul. Mas o STF é mais lento quando a ação se destina a derrubar a mesma lei no Maranhão. Essa ação “está tramitando” no Supremo. O alvo é o clã Sarney: José e a filha Roseana ganham pensão vitalícia de R$ 24 mil. São tantos os penduricalhos na conta do magnata da política José Sarney que, durante um ano, ele não percebeu que depositaram irregularmente o auxílio-moradia de R$ 3.800. Foram R$ 45 mil de “equívoco”, que depois ele afirma ter devolvido.
    O senador, ex-presidente e ex-governador do Maranhão ganha subsídio de R$ 26 mil, verba para passagens, casa, gasolina, e ainda por cima uma pensão eterna. Como descobrir aquilo a que não tem direito? Sarney tem direito a tudo, mesmo que seu Maranhão tenha indicadores sociais lamentáveis. Como disse o ex-presidente Lula, Sarney “não pode ser julgado como um homem comum”.
    A OAB entrou no Supremo, na sexta-feira, com ações de inconstitucionalidade contra as aposentadorias de ex-governadores de dois Estados: Sergipe e Paraná. As pensões são descritas como “grave ofensa ao princípio republicano”.
Os benefícios concedidos a ex-governadores e a seus herdeiros são um roubo e desmoralizam os políticos
    O Paraná é um caso especial e curioso de hipocrisia. Não contente com os R$ 18 mil mensais que recebeu de pensão nos últimos meses, o senador tucano Álvaro Dias pediu à Justiça mais de R$ 1,5 milhão de benefícios retroativos pelo período em que governou o Paraná, de 1987 a 1991. Depois de flagrado, disse que a dinheirama seria para doar a uma instituição assistencial que mantém uma creche em Curitiba. “Centavo por centavo”, diz ele. Você acredita?
    Digamos que sim. Que Álvaro Dias seja um senador beneficente, em busca de uma vaga no reino dos céus. Mas o senador por acaso sabe que caridade se faz com o próprio dinheiro, e não com o dinheiro de seus eleitores? Eles podem preferir doar para cegos, órfãos, idosos. Ou simplesmente não doar o que não têm, porque ainda sonham com impostos menores e mais justos no Brasil. Como disse o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, “queremos estancar essa sangria com dinheiro público”.
    É estranho que uma imoralidade como essa seja praticada em vários Estados há anos, sem que ninguém se rebele. Ninguém sabia de nada? Fala-se tanto de rombo na Previdência. Nós pagamos mais de R$ 30 milhões por ano de pensões para ex-governadores de todos os partidos. São os mesmos políticos que, no Senado, querem a volta da CPMF porque a saúde está em frangalhos.
    Por que o STF não cria uma regra para todo o país? Regrinha básica: “Ex-governadores não podem violar a Constituição nem meter a mão no bolso dos outros”. Dá para entender?
Queria dar voz a um leitor de Belo Horizonte, Luiz Antonio Mendes Ribeiro: “Pura safadeza! Esses políticos desrespeitam as leis, engendram mutretas para se locupletar e não se envergonham de nada. Vamos dar um choque de decência nisso”. Vamos mesmo?
Da Revista Época

Sarney reconhece abuso na escolha de suplentes entre senadores

Rosa Costa
    O presidente do Senado, José Sarney, disse ontem, 28, que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que trata da indicação de suplentes de senadores pode ser incluída na reforma política que, segundo ele, será votada este ano. Sarney reconheceu que há "abusos" na escolha do ocupante do cargo, referindo-se aos candidatos que indicam parentes para a vaga de suplente. "Eu acho que isso pode ser feito (votar a emenda dos suplentes este ano). Há certos abusos que a gente tem de considerar", admitiu. "Acho que (a PEC) deve ser incluída na reforma política. Estamos procurando votar este ano", afirmou.
    Feita por um grupo de senadores, a proposta que trata dos suplentes proíbe a escolha de parentes para o cargo e determina que em caso de morte ou renúncia o novo ocupante da vaga seja escolhido por eleição. Na legislatura que começa terça-feira (1º) somente o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, reeleito senador no ano passado, escolheu pela segunda vez o filho do mesmo nome para o cargo de suplente. O Senado encerra a atual legislatura com 1/3 de seus representantes não eleitos.
    Candidato à presidência do Senado pela quarta vez, Sarney voltou a afirmar, a exemplo do que fez em outras ocasiões, que considera "um sacrifício" comandar a Casa. "Eu não digo animadíssimo, porque eu acho que para mim é um sacrifício o que estou fazendo. Espero que mais uma vez eu possa ajudar o senador a ajudar o País na presidência da Casa", disse, lembrando que já foi presidente algumas vezes. "Já tenho uma certa idade. Para mim é uma carga de trabalho muito grande que nós temos que arcar para dirigir uma Casa política, colegiada e ao mesmo tempo com grandes problemas na área administrativa".
    Questionado sobre o motivo de o PMDB não ter indicado outro candidato, Sarney respondeu que a pergunta deve ser feita à liderança do partido. "Sou favorável a qualquer outra solução que possa encontrar. Mas acho que tentaram. Mantiveram esse apelo (à candidatura dele) em favor da unidade do partido."
    Para o presidente do Senado, o enfoque da legislatura que começa na terça-feira está relacionado ao problema das enchentes no País, da segurança nacional e da reforma política. Ele voltou a dizer que se a reforma política não for feita no primeiro ano de cada legislatura "não se faz mais". "Essa é a experiência que a gente tem."
Da Agência Estado

No Painel da Folha de S. Paulo

A ver
Descontentes com a reeleição de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado defendem um "protesto silencioso". Como o voto é secreto, pretendem agir para que o resultado não configure "unanimidade".
Bis
O presidente do STF, Cezar Peluso, mandou a Câmara empossar um suplente sob o argumento de que a vaga é do partido, não da coligação eleitoral, como ocorria até então. É a segunda decisão da Corte nessa linha.
Disputa-tampão
Beneficiário da liminar, Francisco Escórcio (PMDB-MA) fez plantão ontem na Câmara na expectativa de assumir o mandato de três dias -a legislatura termina segunda. Ele iria tomar o lugar de outro deputado-tampão, Costa Ferreira (PSC-MA), há 25 dias no cargo, mas a Câmara concluiu não haver tempo hábil.





Charge do dia

Manchetes dos jornais

O DEBATE - Federal descobre fraude em mais três provas da OAB
O ESTADO DO MARANHÃO - Greve de agentes prejudica plano de combate à dengue
O IMPARCIAL - Fim de férias escolares em julho?