6 de jul. de 2011

Vagos idiotas

Ruy Castro
RIO DE JANEIRO - Na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, numa solenidade pelos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, citou Nelson Rodrigues: "Ele [NR] dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia, e nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento".
    A princípio, supôs-se que Nelson Jobim chamara de idiotas alguns de seus colegas no atual governo. Diante do estupor, ele se defendeu e explicou que os idiotas a que se referia eram os jornalistas, que "escrevem para o esquecimento". Mas só fez piorar, porque quem um dia admitiu que escreveu para o esquecimento foi "exatamente" o homenageado FHC.
No jornal, Nelson Rodrigues tratou muitas vezes do idiota. Numa delas, foi assim: "Escrevi outro dia que o idiota sempre se comportara como idiota. Era de uma modéstia exemplar, de uma humildade total. Não em nossa época. De repente, o idiota explode. (...) Hoje há idiotas liderando povos, fazendo história e fazendo lendas. Mao Tse-tung seria impossível em outra época. Em nosso tempo, passa por ser um estadista gigantesco. (...)
    "Lidos, viajados, falando vários idiomas, maridos das melhores mulheres, os idiotas têm também os melhores cargos e exercem as funções mais transcendentes. Disse eu que estão por toda parte: na política como nas letras, nas finanças como no cinema, no teatro como na pintura. Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina".
    Nelson Rodrigues, às vezes, era claro até demais. Mas continuamos sem saber quem o tolerante e imodesto ministro chamou de idiotas.
Da Folha de S. Paulo

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