7 de jul. de 2011

Maranhenses 'invadem' o Pará para ser feliz

Seu Jurandir
    A bagagem se resumia a uma sacola, mas a vontade de trabalhar e vencer na vida era muito maior. “Acabei ficando por achar que em Belém conseguiria uma vida melhor”.
    Assim começou a história de Jurandir Sales de Almeida no Pará. Ele saiu da cidade de Pastos Bons, no interior do Maranhão, aos 27 anos, para visitar o primo Ribamar, mas ficou de vez no estado. O maranhense ajudava os pais, Constantino (em memória) e dona Alice, hoje com 73 anos, na roça.
    Como seu Jurandir, hoje aproximadamente 500 mil maranhenses ganham a vida no Pará, boa parte deles em Belém. Alguns vivem muito bem, tanto que conquistaram o sonho da casa própria e desfilam em carro novo.
    Jurandir Almeida não enfrentou problemas para se adaptar ao novo lugar. O primo Ribamar lhe “empregou” no mundo das vendas de porta em porta. O primo também deu casa e comida para seu Jurandir até ele conseguir ganhar o sustento sozinho, o que não demorou muito. Há 21 anos, seu Jurandir sobrevive das vendas de diversos artigos e já conquistou muitas coisas, inclusive o sonho da casa própria. “Gosto de tudo no Pará. Acho uma terra boa demais, principalmente para trabalhar”, revela. Seu Jurandir garante que só pensa em retornar para sua terra natal após a aposentadoria.
    Ele é o popular “prestação”, termo antigo dado aos vendedores como ele, que revendem de tudo, dos utensílios domésticos até roupa de cama. O cliente tem a comodidade de comprar em casa com o crédito aprovado na hora e paga tudo em prestações a perder de vista. O comerciante tem clientela garantida com cerca de 300 clientes espalhados pelos bairros da Sacramenta, Pedreira, Telégrafo e Umarizal. Ele sai de domingo a domingo, inclusive feriados, pelas ruas da cidade atrás da freguesia.
    Ao contrário de muitos de seus colegas de trabalho, ele não empurra um carrinho abarrotado de mercadorias. Ele é um prestação moderno. Faz de uma motocicleta o instrumento que lhe ajuda a ganhar o pão de cada dia. “Só a chuva me impede de sair todos os dias para vender”, revela o maranhense que se queixa apenas da violência da qual já foi vítima quatro vezes.
    Assim como foi ajudado logo que chegou, seu Jurandor também ajuda outros parentes a se estabelecerem no Pará. Já ajudou quatro sobrinhos que hoje moram em Belém e trabalham no mesmo ramo do tio. O maranhense também tem outros parentes espalhados pela Cidade Nova, no município de Ananindeua, e no bairro da Guanabara, na região metropolitana de Belém.
    A esposa de seu Jurandir, Edileide Santos, de 24 anos, também maranhense, trabalhava na casa de um parente dele quando eles se conheceram. O casamento, de oito anos, gerou a pequena paraense Graziela, de 4 anos. “Tenho orgulho de morar e criar minha filha aqui. Já me considero um pouco paraense”, desabafa o maranhense.
Maranhão tem maior número de imigrantes
    Os maranhenses representam o maior grupo de imigrantes no Pará. Eles são os principais formadores da população de Belém, sul e sudeste do estado. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009 os maranhenses eram 6,53 por cento da população paraense, o que significa 488.705 mil pessoas. A pesquisa aponta um equilíbrio dessa população maranhense entre homens (49,13%) e mulheres (50,870%), na maioria adultos que procuram melhores condições de inserção no mercado de trabalho no estado vizinho.
    Pará e Maranhão têm uma ligação histórica que começou com a criação do Estado do Grão-Pará e Maranhão, em 1.751, quando os dois estados faziam parte da mesma capitania, que era a forma de divisão do território brasileiro pela Coroa Portuguesa.
    Segundo revela a professora e historiadora Edna Ferreira Alencar no livro Migrações na Amazônia, foi entre as últimas décadas do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX que milhares de nordestinos, dentre eles os maranhenses, foram atraídos para o Pará por causa da extração da borracha. “Estima-se que no momento mais produtivo da indústria da seringa (...), cerca de 300 mil nordestinos originários principalmente dos estados do Maranhão e Ceará tenham migrado para a Amazônia, sendo que parte desses imigrantes se estabeleceu em seringais do estado do Pará”, relata a historiadora.
    A pesquisadora conta que mais tarde, na década de 70, incentivados pelas políticas de ocupação da Amazônia, outra leva de migrantes maranhenses foi para o estado vizinho em busca de terras no programa de colonização da região e de trabalho na abertura das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá. “Estimulados pelo governo, milhares de migrantes, a maioria oriunda do estado do Maranhão, se deslocaram de seus respectivos lugares na esperança de encontrar melhores condições de vida, tal como era apresentado nas propagandas do governo”, conta Edna Alencar.
    Posteriormente, de acordo com a professora Edna Alencar, houve a migração dessa população maranhense do meio rural para as áreas urbanas em virtude dos graves conflitos fundiários. Porém, muitos pequenos produtores que conseguiram permanecer no campo, são antigos migrantes maranhenses ou seus descendentes.
    Decorridos mais de meio século, nossos vizinhos maranhenses continuam a buscar o Pará na tentativa de ter u ma vida melhor. Quer no passado ou no presente, independentemente do momento econômico, o motivo continua a ser o mesmo: trabalhar e principalmente vencer na vida, concretizando o sonho da casa própria e, em alguns casos, do carro zero quilômetro na garagem.
Do Diário do Pará

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