24 de jul. de 2011

Imortal Zé Carlos europeiza nossa origem na intenção de louvar São Luís

    Apenas 11,8% dos brasileiros acreditam que suas famílias têm origem africana. A maioria, 43,5%, acredita que sua origem familiar é europeia. Os números constam em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, realizada em cinco estados e no Distrito Federal. O Maranhão não está no mapa dessa pesquisa.
    Corrobora com essa estatística o advogado, jornalista, professor universitário da UFMA (arena de preconceito racial denunciado recentemente) e membro da Academia Maranhense de Letras José Carlos Souza Silva, no texto “São Luís é de todos” (qualquer semelhança com o slogan da era Castelo pode ser mera coincidência”) publicado na edição deste domingo em O Estado do Maranhão, jornal fundado por José Sarney e Bandeira Tribuzzi.
    Em 1612 São Luís, Capital do Estado do Maranhão, foi fundada por franceses. Foi invadida por holandeses, mas, na realidade, na sua amplitude, foi construída pelos portugueses”, constata o imortal para tecer um texto ufanista, baseado numa visão estrábica de nossa ancestralidade, no qual razão e lógica são evocadas para então superá-las.
    Nesse mosaico de porcelana, José Carlos Souza Silva ignora etnias e nacionalidades que constituem a base da sociedade da Ilha do Maranhão, quais sejam: negros, índios e africanos.
    Mais adiante Silva conclui de per si que:“Nós, maranhenses, temos, sim, vínculos fortes com franceses, holandeses e portugueses. De todos eles recebemos muita força no sangue, nas ações, nas omissões, na luta permanente no trabalho e nos estudos, buscando sempre o melhor na vida.”
    A história plasma que nas primeiras décadas do século XVII, quando justamente estava sendo fundada a ilha que em 2012 completará 400 anos, proliferaram as companhias européias de comércio cuja mercadoria de primeira era os negros aprisionados na África.
    O tráfico de escravos e sua conseqüente escravidão em solo brasileiro abençoada pelo Papa Nicolau impulsionou a economia colonial nas Américas, a do Maranhão não estava excluída desse rol. “O contingente negro é um dos mais expressivos na população maranhenses atingindo cerca de 70% dos habitantes”, sintetiza o professor Sérgio Ferretti no trabalho “A contribuição do negro na sociedade maranhense”, apresentado em Mesa Redonda no Curso de Letras da UFMA em outubro de 2008.
    A consciência da formação da sociedade brasileira nos levou a conquistas inarredáveis como o artigo 68 da Constituição da República Federativa do Brasil que reconhece as comunidades remanescentes de quilombos.
    Até 1755, quando passou a vigorar as leis pombalinas, a província do Maranhão possuía uma população diferenciada do resto do país “que se caracterizava por uma maioria de índios, face a um reduzido número de colonos brancos, destacando-se uma quantidade significativa de missionários” *. A sobrevivência dessa etnia ainda reluta com a colonização mascarada pelo legalismo.
    O imortal maranhense ratifica a identificação que os brasileiros têm sobre sua raça. Ainda segundo o IBGE, enquanto 49 % se declaram da raça branca, os morenos, pardos, negros e morenos claros somam 44,5%. Apenas 0,4% se identificam como indígena.
    São essas razões que a lógica de José Carlos Sousa e Silva subverte no texto primoroso para inflar sentimentos ufanos nos incautos.
* “A política indigenista no Maranhão provincial”, Coelho, Elizabeth Maria Beserra (Sioge – 1990)

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