6 de abr. de 2011

Sarney se diviniza até na hora da morte de Jackson Lago

Cortejo com o corpo de Jackson Lago na Av. Beira-Mar
    Reconhecer apenas as coisas boas na hora da morte é sabedoria popular secularizada. No caso do Senador José Sarney e sua filha Roseana Sarney em relação à Jackson Lago exala hipocrisia. Por mais protocolar que exprimam as notas de pesar emitidas por ambos na intenção de reconfortar a família Lago nessa hora de dor, a intenção de exorcizar a culpa transpareceu como gesto maior.
    Entre os políticos e populares que foram receber o corpo do ex-governador do Maranhão, Jackson Lago, no aeroporto de São Luís na tarde de terça-feira, 5, o comentário sobre a nota era unânime.
    Diria que a ideia central das notas, além de afugentar quaisquer reações de animosidade nessa hora de dor, embute propósitos mais covardes ainda, como os de entorpecer os sentimentos mais nobres de indignação reservado ao livre arbítrio inerente ao ser humano.
    No texto da matéria distribuído pela SECOM a intenção era explícita: deixar transparente que a civilidade aduba as relações políticas entre os Sarney e seus adversários. Mais além ainda, regar entre as camadas populares a máxima sobre a qual as elites se compõem no poder. Daí as relações amistosas entre famílias de políticos adversários obedeceram a um axioma inquebrantável.
    Ainda por cima, enfatiza que o cerne da conversa foi a oferta do Palácio dos Leões como local para velar o corpo daquele que dali foi escorraçado pelo poder injusto calçado numa justiça caolha. Diante de tanta vilania que se assistiu durante o hiato em que a família foi destronada daquele endereço a oferta me parece, embora a entenda dentro do código protocolar, de uma imensidão descarada.

Sede do PDT na Rua dos Afogados
    De forma oportunista, nessa hora da dor da perda irreparável, escribas, acólitos e toda naipe da cambada que no passado recente exacerbou seu potencial de sordidez, são aves de rapina travestidos de pombos. A sistemática campanha de enxovalhamento da honra de Jackson Lago desde 19 de outubro de 2006 está registrada nas páginas da histórica, com destaque no jornal fundado por José Sarney e Bandeira Tribuzzi. À essa verdade monolítica não há contraditório.
    Atribuir a morte de Jackson Lago aos Sarney seria divinizá-los. Isso confirmaria seus mais profundos desejos de tótens de uma era de infortúnios.
    Lembro a indagação ainda pertinente do ministro Vidigal em pleno embate eleitoral da qual Jackson saiu vitorioso: Onde estão os homens e mulheres desse estado que não indignam?
    O corpo de Jackson Lago será enterrado nesta quarta-feira no Parque da Saudade. Como legado maior, seivado em vida, ele deixa a convicção de que só a luta norteia a vida humana. O resto é perfumaria sem fixação.

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