7 de fev. de 2011

Sarney tenta agora virar ‘patrono’ da reforma política

Josias de Souza
Retratado no noticiário ora como símbolo das mazelas do Senado ora como abre-alas da invasão fisiológica ao setor elétrico, José Sarney quer mudar de assunto.
    O tetrapresidente do Senado disse ao ministro José Eduardo Cardoso (Justiça) que vai constituir um grupo suprapartidário para elaborar projeto de reforma política.
    Não especificou datas, mas deu a entender que tem pressa. Quer finalizar uma proposta antes do início do recesso parlamentar do meio do ano.
    No segundo semestre, deseja levar a reforma a voto. Por que a correria? Sarney alega que é preciso aproveitar o embalo do início da gestão Dilma Rousseff.
    Segundo o raciocínio do morubixaba pemedebê, se ficar para 2012, a reforma política não sai. Ou se faz no primeiro ano ou não se faz, diz Sarney.
    Para não partir do zero, Sarney recomendará à comissão que recupere nos arquivos do Congresso projetos já apresentados sobre a matéria, compilando-os.
    A iniciativa chega nas pegadas da mensagem em que Dilma expôs ao Legislativo as prioridades de seu governo para o ano de 2011.
    O texto foi lido pela presidente há seis dias, em sessão presidida por Sarney. A certa altura Dilma disse, sob aplausos:
    "Trabalharemos em conjunto com essa Casa para a retomada da agenda da reforma política". Animada com as palmas, ela repetiu a frase.
    Todos os presidentes do Brasil pós-redemocratização, incluindo o próprio Sarney, prometeram coisa parecida. E a reforma jamais saiu.
    Nessa matéria, qualquer mudança que se pretenda profunda e séria tem de contrariar interesses dos parlamentares incumbidos de votá-la.
    A coisa sempre começa como um tour-de-force (expressão de origem francesa que significa grande esforço) e termina num enorme tor-de-farsa.


PMDB reserva para Dilma a política do ‘cá te espero!’
    Ao arrancar Furnas das mão$ de Eduardo Cunha para acomodá-la no colo de José Sarney, Dilma Rousseff virou uma página do PMDB. Para trás.
    Em articulação que consumiu todo o segundo reinado de Lula, Michel Temer obtivera o impensável: unificara os interesse$ de dois PMDBs, o da Câmara e o do Senado.
    Num único lance, reabriu-se o fosso. Um grão-pemedebê que detesta Cunha e odeia Sarney acha que
Dilma comprou uma encrenca:
    “Lula fez mal em entregar Furnas à turma do Eduardo Cunha. Dilma fez bem em interromper o baile antes do Carnaval...”
    “...O problema é que ela desbaratou o bloco dos sujos e levou à avenida o cortejo do bumba-meu-boi barrica...”
    “...O Flávio Ducat é personagem do folclore maranhense. Deve seu prestígio ao Fernando Sarney, cujos negócios no setor elétrico nem a PF ignora...”
    “...O pessoal do Eduardo Cunha se pergunta: por que o Maranhão pode e o Rio de Janeiro não? Um pedaço do PMDB da Câmara aguarda Dilma na curva...”
    “...Esse grupo virou adepto da política do 'cá te espero'. Se o Temer tiver forças, talvez consiga evitar que o troco venha na votação do salário mínimo...”
    “...Mas, cedo ou tarde, a resposta virá. É coisa certa, contratada. Se queria uma solução técnica, Dilma deveria ter tomado distância da família Sarney”.

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