31 de dez. de 2010

"Em alguma parte alguma" de Gullar entre os dez do ano de acordo com Segundo Caderno de O Globo

    Ferreira Gullar afirmou ter escrito "Em alguma parte alguma" (José Olympio) "no limite da desordem". Os magníficos poemas deste livro, de fato, levam ao extremo as possibilidades da língua, sem permitir, contudo - como nas experiências da vanguarda do século XX - que ela se destrua. É também um livro sobre a poesia, fluido objeto de desejo que não se encontra em nenhum lugar.
    Primeira publicação com poemas inéditos de Ferreira Gullar em mais de uma década, lançada no ano em que o poeta chegou aos 80 e ganhou o importante Prêmio Camões, "Em alguma parte alguma" é obra de um escritor comprometido com uma tarefa por ele mesmo considerada paradoxal: exprimir o caos da experiência vivida dentro do sistema organizado da linguagem.
O poeta Ferreira Gullar
    Entre os muitos "fracassos" que portanto constituem a obra do poeta, este livro reúne alguns dos mais belos, com poemas tocados pela reflexão sobre a morte - "o osso/ este osso/ (a parte de mim/ mais dura/ e a que mais dura)/ é a que menos sou eu?" - ou arrastados pelo chamado irresistível do mundo: "deflorou-me as narinas/ o veneno/ que o jasmineiro/ (disfarçado de arbusto)/ expelia/ como uma fêmea/ emite seu aroma de urina".
De O Globo

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